As pessoas são seres contraditórios por natureza. Ao
mesmo tempo em que podemos ser bons, fazendo algo voltado para um bem maior,
podemos ser mesquinhos e egoístas, objetivando somente o benefício próprio.
Essa é a dura revelação que o livro Morte
Súbita, de J. K. Rowling, nos
faz.
Em seu primeiro romance para um público adulto, a autora
da série Harry Potter cria uma trama
que gira em torno de um personagem que já está morto: Barry Fairbrother morre
de maneira repentina, deixando vazia uma cadeira no Conselho Distrital de Pagford e, dali em diante, a vida das pessoas
desse pequeno vilarejo irá se transformar drasticamente.
A ausência de Barry atinge os demais personagens de diversas
formas e, sob o efeito da sua morte, vamos conhecendo-os aos poucos. A narração
em terceira pessoa nos coloca dentro da cabeça de cada um deles. Por trás de
cada sorriso, uma tristeza e angústia profundas; por trás de gestos de
generosidade, segundas intenções; escondidos sob o disfarce da família
exemplar, anos de conformismo e omissão para se manter as aparências.
Assim, durante boa parte do livro, a autora vai nos
apresentando as facetas ocultas de cada um dos personagens e revelando seus
segredos. Diante de tanta hipocrisia
e futilidade, é muito fácil assumir a posição de juiz. É inevitável criticar e
condenar certas atitudes e pensamentos. Porém, mais cedo ou mais tarde, cai a
ficha e começamos a nos questionar: “eu já não fiz isso também?”, “se fosse
comigo, como eu agiria? O que eu pensaria?”.
A partir desse momento, passamos a olhar o cenário de
outro modo, de uma forma mais ampla. Colocamo-nos no lugar daquelas pessoas e
vemos que Pagford, na verdade, pode
ser a nossa cidade, o nosso local de trabalho e até mesmo a nossa casa. Não há
heróis, nem antagonistas, somente
pessoas normais com problemas mundanos.
Sendo assim, Morte Súbita é um livro que mexe com nossas
emoções, enquanto caminha para um desfecho imprevisível. Percebemos que não é
tão simples dividir as pessoas em “lado bom” e “lado mal”. Podemos errar
tentando fazer o certo, acabando por prejudicar alguém. Mas, também, podemos
acertar depois de alguns tombos e tropeços.
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