Fonte |
Você já se perguntou de onde vem a inspiração? Aquela música perfeita, as
pinturas mais incríveis, os poemas mais belos e os filmes mais
impressionantes... ou então já se questionou o que origina os atos mais soturnos
e repugnantes que a mente humana pode conceber? E se a resposta a essas
perguntas fosse que deuses em um plano astral travam uma batalha constante para
dominar os seus sonhos e seus pensamentos? Para se alimentar e viver
deles... para viver neles?
Esse é o mote de Fios de Prata, do autor
carioca Raphael Draccon. Nele somos
jogados no meio de uma luta entre deuses menores pela supremacia no Sonhar, o plano astral do qual advém
toda a forma de inspiração, seja ela para o bem ou para o mal. E é nesse plano
que conhecemos Madelein, o Anjo dos Sonhos, uma entidade
responsável por inspirar sonhos despertos nos humanos, e entendemos o seu
ressentimento com Morpheus, o deus
trapaceiro. Em uma manobra para se tornar soberano no Sonhar, Morpheus ofuscou
seus dois irmãos, Phantasos e Phobetor, e pôs Madelein em segundo
plano, criando um cenário de inveja e conspirações.
Enquanto isso, na Terra, o brasileiro Mikael Santiago, o Allejo, vem passando
por muitas dificuldades em meio a pesadelos lúcidos e uma tragédia envolvendo
sua namorada, Ariana. Ele ainda não
sabe, mas suas almas têm um preço inestimável na guerra pelo Sonhar.
Desesperado para salvar Ariana, Mikael descobre que terá que descer ao Inferno para resgatar o espírito da
mulher amada. E para tal jornada ele conta com a ajuda de devotos a Madelein,
que o ensinam a caminhar pelo mundo dos sonhos para chegar a seu destino.
É dessa forma que a trama vai se desenrolando.
O livro é repleto de cenas bem descritas de batalhas, diálogos empolgantes
entre entidades superiores e suas respectivas consequências imediatas sobre as
pessoas na Terra. O autor consegue estimular nossa imaginação ao máximo, de
forma que cenários grandiosos tomam forma na nossa cabeça. Mas o que torna a
história realmente interessante são as diversas referências à cultura pop que
Draccon utiliza para conduzi-la. Passando
de Dante Alighieri a Tolkien, de Shakespeare a Neil Gaiman,
vamos tendo uma compreensão do que motivou estes autores a escreverem obras tão
significativas para a humanidade. E também vemos o oposto: o que levou algumas
pessoas a cometerem atrocidades e atos de violência e qual o destino reservado
para suas almas...
Sendo assim, até o seu desfecho
surpreendente, Fios de Prata – Reconstruindo Sandman nos revela o quão forte pode
ser a força da inspiração sobre o pensamento coletivo. Por trás de elementos
fantásticos, seres mitológicos e guerras astrais, o que importa são os sonhos que
nutrimos a partir de exemplos dados por nossos semelhantes e para onde
direcionamos nossos atos e pensamentos para que possamos realizar tais sonhos.